domingo, 1 de novembro de 2009

Sonho - vídeopoema incluído no filme PORTUGUESIA,
com 101 poetas de língua portuguesa feito por Wilmar Silva.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Leilão de Jardim, de Cecília Meireles
com Bruna Bandeira

sábado, 4 de abril de 2009

Chocolate
Nesta Páscoa as revistas, os sites e os programas de tv reciclaram todo o meu conhecimento sobre o Chocolate (em maiúscula mesmo que é pra evidenciar minha idolatria). E imagino que tudo é lenda em torno do Chocolate. Tudo fruto do rico imaginário dos chocólatras, inclusive a origem grega da palavra com seu questionável significado: alimento dos Deuses. Prefiro acreditar em Xocolati, água amarga, possivelmente com origem no vocabulário Inca. E não se trata de alimento, mas de uma delícia suprema, para felicidade dos humanos. Imagino que é uma lenda que foi se avolumando ao longo da História, com capítulos escritos tanto pelo Marquês de Sade, por Casanova, Henri Nestlé e Daniel Peter, como pelo cinema e a música moderna. Sei que é lenda o capítulo escrito pelo Marketing dos fabricantes, mas acho sensato acreditar que o Chocolate tem energia, que aumenta a libido, que ativa os neurônios, que contém flavonóides, que é bom pro coração. Aliás, o Chocolate foi feito pra agradar o coração, vejam: apenas seis gramas diários de “dark chocolate” reduziram a pressão sistólica e diastólica em dois pontos cada. Além disso, ele pode reduzir os níveis de colesterol ruim (LDL) em cinco pontos e têm efeitos benéficos na função dos vasos sangüíneos. No entanto há esse detalhe: apenas seis gramas diárias. É lenda, certamente francesa, temperar carne de javali com Chocolate, mas acho sensato acreditar em sua eficiência como presente multifuncional, vale pra declaração de amor ou de amizade, (e o Chocolate diet é uma das poucas delícias desta categoria que conseguiu manter a dignidade no sabor). É lenda o explorador espanhol que levou o Chocolate pra Europa e o suiço que inventou o Chocolate ao leite. Mas acho sensato acreditar que contém proteínas, teobromina e tiramina, gorduras, calorias, cálcio, magnésio, ferro, zinco, sódio, fibra alimentar, caroteno, vitaminas E, B1, B2, B3, B6, B12 e C. Lenda, tudo lenda, lenda que Chocolate possa modificar pessoas e despertar paixões, mas acho sensato acreditar, e comer os poderes do Chocolate. Mesmo que não seja Páscoa.
"Eu só quero chocolate” - Tim Maia

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Listas, e livros que fazem o
coração bater mais forte

Em minha infância e adolescência as listas eram coisa de meninas. Meninos não se davam a estas "anotações frescas", embora insconscientemente fizessem listas de times de futebol, de garotas lindas, de garotas feias, de garotos bons de bola, garotos muito ricos e assim por diante. Uma vez li furtivamente uma lista. Estava no caderno de uma de nossas colegas e tratava-se de uma lista de garotos esquisitos do nosso colégio. Passei os olhos com a maior velocidade que podia. Procurei meu nome, que estava lá e, entre parênteses, a frase: Sério, míope, escreve poesias, é o único poeta que já vi de perto. Bonitinho, não é chato, nem é legal. Mas é esquisito. Por uns minutos fiquei com vergonha, depois achei engraçado, até gostei do bonitinho. Principalmente porque a garota não poupava ninguém. Até seu irmão figurava como esquisitíssimo. Aquele era mesmo um colégio de garotos esquisitos. No caderno havia outras listas, tipo "as melhores coisas das férias de 1975, a melhores coisas para detestar, as melhores coisas pra gostar, 10 músicas pra ouvir quando se está triste", enfim. Desde então acho fazer listas uma coisa excêntrica, e isso tem lá um certo charme. E também não consegui encontrar outra música linda mais triste do que I Can't stop loving you, de Ray Charles, uma das dez mais daquela lista.
Charme maior foi conferido às listas em dois livros de escritoras mineiras. O Livro de Cenas Fulgor, de Lúcia Castelo Branco, publicado em 1999 pela Editora Duas Luas e O Livro deZenóbia, de Maria Esther Maciel, Editora Lamparina, 2005.
Ambas escrevem com fragâncias femininas, o que confere aos dois livros um certo parentesco estético. Ambas despertam no leitor os encantos do texto literário de qualidade, dotado de magia e sensibilidade. Lúcia opta pela poesia pura de estilo muito simples, e belo, que explana um mundo de pequenas atitudes e preferências, dos seus afetos e medos, tudo que justifica a presença do sonho e da memória em nossas vidas. São as Cenas Fulgor. No prólogo a autora esclarece: "Uma cena fulgor pode ser “uma pessoa que realmente existiu”, uma frase, um animal ou uma quimera". É esse o pressuposto para que ela nos apresente suas listas: coisas que fazem o coração bater mais forte, coisas raras, coisas difíceis de dizer, coisas que trazem uma doce lembrança do passado. Listas pequenas, deliciosas de se ler:

I . COISAS QUE FAZEM O CORAÇÃO
BATER MAIS FORTE
:

- Um planador conduzido segundo a feição do vento
- O dorso desnudo de um bebê adormecido
- O olhar de um cão, em direção à mãe que amamenta o bebê
- O olhar de uma criança, em direção àquilo que ela não compreende
- Tâmaras secas sobre um prato de cristal
- Aquele amigo distante que retorna
- Deitar-se só, num quarto deliciosamente perfumado de incenso
- O clarão da lua atrás da nuvem
- JANEIRO

III . COISAS RARAS
- Um amigo que suporta nossa alegria com a mesma firmeza com que suporta nossa dor
- Não sujar de tinta o livro em que se copiam romances, trechos de poesia, pensamentos
- Manter a dignidade em uma discussão, mesmo quando os argumentos parecem nos abandonar
- O encontro do amor, dez anos depois, depois de desvios, desvãos, desencontros

Já Maria Esther Maciel em seu O Livro de Zenóbia opta pela prosa poética para nos contar a vida de Zenóbia. Cada capítulo se divide em partes numeradas: as idades, os sonhos, os amores, as receitas, as ervas daninhas. Assim constrói a briografia de Zenóbia. Logo descobrimos que Zenóbia teve quatro amores, que herdou da avó o gosto por quitandas, que é botânica, cultiva plantas de raízes drásticas, que ama sobretudo o imaginário afetivo, e lírico, que envolve coisas e pessoas. "Zenóbia diz que a lírica, e não a crônica, define seu pacto com a vida". Ela também gosta de fazer listas. Listas de livros de cabeceira, de peixes perplexos, de ervas daninhas, de temperos e ervas de cheiro, orquídeas, bromélias, palavras. Ah e os deliciosos nomes de cidades raras: Bizarra. Martírio, Sorriso, Sonora, Olho d´água do Borges, Coxixola, Mansidão, Solidão, Tuntum, Rifânia. O Livro de Zenóbia é uma fábula, ou um fabulário sustentado menos nas questões morais e mais na beleza do estilo e nas emoções da personagem. Uma leitura que nos banha com a aura do sonho e das lembranças romanescas. Agora começo a achar que fazer listas é um exercício de imaginação e poesia. Ato inspirador. Assim apresento-lhes minha primeira lista:
Coisas que perturbam:
. Garotas bonitas que cantam MPB.
. Garotas bonitas que amam com desespero.
. Alarmes que disparam à meia-noite.
. Poemas que disparam o coração a qualquer hora.
. O olhar firme de uma mulher desconhecida.
. Poetas que não dizem nada.
. Poemas que dizem tudo.
. Sonhar com um amor morto.
. Sonhar com um amor que não chega.
. Estar no centro das atenções.
. Presságios. Premissas. Promessas.
. Ferir um amigo, involuntarimente.
. Amar uma amiga, voluntariamente.

Fico pensando porque gostei tanto destes dois livros e porque gosto de tantos outros escritos por mulheres. A boa literatura não tem sexo. Ah, sim. Mas as mulheres entendem uns detalhes, têm sutilezas e possibilidades estilísticas impossíveis aos homens.
E isso merece outra lista:

Livros maravilhosos escritos por mulheres:
. Afrodite, de Isabel Allende
. Autobiografia de Alice B. Toklas, de Gertrude Stein
. Inéditos e Dispersos, de Ana Cristina César
. Minha Vida de Menina , de Helena Morley
. História do rei transparente, de Rosa Montero
. Cânticos, de Cecília Meireles
. A festa de Babette e outras anedotas do destino, de Isak Dinesen
. Poemas do Brasil, de Elizabeth Bishop. Líquido e certo, de Elza Beatriz
. O Coração disparado, de Adélia Prado
. O Lado fatal, de Lya Luft
. Perversa, de Ana Elisa Ribeiro
. O Livro de Zenóbia, de Maria Esther Maciel
. Livro de Cenas Fulgor, de Lúcia Castelo Branco
. Em busca do homem Sensível - Anais Nin

"E tu verás o que vias:Mas tu verás melhor..."
Cecília Meireles, Cânticos

sábado, 6 de dezembro de 2008


PINTURAS DE RUI SANTANA (1960-2008)
Quadros em exposição na Agnus Dei Galeria de Arte,
Rua Santa Catarina, 1155 - Lourdes - Belo Horizonte
Os quadros podem ser vistos também em
http://www.arteruisantana.com/

Ainda nesta página um texto do grande filósofo e
crítico de arte Moacir Laterza sobre a obra de Rui.
E outro quadros.

A OBRA DE RUI SANTANA
Por Moacyr Laterza

Eu me simpatizo muito com a obra de Rui Santana.
Esse sentimento estético,que é o vínculo mais profundo
que me une à obra e, indiretamente ao próprio
artista, não pode ser descrito com palavras.
Eu fico, num primeiro momento, tocado pela
profusão de sua obra. Primeiro aspecto desta
numerosidade - dessa profusão - é o número de
gêneros que vem trabalhando e onde ele tem
versado com grande maestria: desenho, pintura,
escultura, performances eoutras atividades
artísticas que acaso não cabem integralmente
nessasrubricas que acabo de designar.
Apreciando a obra na totalidade que ela
pretende alcançar, não posso perderde vista,
também, o valor de cada um dos elementos
que integram o todo. Essa é uma situação
que encontramos com frequência na história
da arte, onde a unidadese completa com a
unidade seguinte fazendo o todo refulgir,
ganhar seu esplendor. A OBRA. Junto com o
aspecto estético, junto com a criatividade
artística, um outro lado que é muito dominante
na genialidade de Rui Santana é o seu aspecto de
explorar os artifícios a que se presta a própria
matéria com que ele trabalha. A matéria possui
sua insídia, seu mistério e é preciso ser muito
artificioso, inteligente, ter o seu SKILL para
dobrar essa matéria e fazê-la dizer aquilo que
nós gostaríamos que ela dissesse. Ele é um
artesão, ele é um ártifice, é um artista e
ele é tudo isso porque primeiro ele é um
grande esteta, que sabe conversar
amorosamente com as coisas do mundo.




domingo, 30 de novembro de 2008

Sandra Moreira


A nostalgia é um tema recorrente, não apenas na literatura mas também nas conversas.
Na língua portuguesa nostalgia não é o mesmo que saudade. Mais que saudade Nostalgia é uma espécie de culto ao passado, reforçado por lembranças, fotos, músicas, lugares, tempo. Há gente que sente nostalgia de um outro tempo "onde as pessoas eram mais amigas, onde se podia andar à noite sem riscos, onde havia cortesias e delicadezas, um tempo em que as namoradas não davam, outro tempo em que as namoradas não davam na primeira semana, onde se lutava pela liberdade que não se tinha, onde o carnaval era mesmo uma manifestação popular, onde os craques eram muito mais craques e os gênios muito mais geniais. Ah bons tempos". E suspiram. A nostalgia pode acometer tanto um quarentão, como eu, um setentão como meu amigo José Miguel, ou uma garota de 23, como a querida amiga Kelly, que tem saudade de sua doce adolescência em Itabira.Nostalgia é sofrimento pra uns, enlevo pra outros. Ás vezes este sentimento nostálgico vem em detrimento do presente, considerado difícil, atribulado. Outras vezes é a vontade de que o tempo realmente volte, acompanhado das atitudes de então. Que voltem os sonhos, a ilusão, o tesão, a crença no futuro. Há também a intenção de convencer os mais jovens, pobres alienados, da beleza e da força "daqueles tempos". Que bobagem! Que bobagem colocar o cd do Bee Gees e fechar os olhos e se imaginar dançando na discoteca em 1977. Que bobagem guardar fotos de viagens, bilhetes com o beijo de batom. Que bobagem encontrar os amigos da faculdade e relembrar festas, micos, garotas lindas e garotas dadeiras, que bobagem! Que bobagem lamentar a guitarra na MPB. Que bobagem lamentar as mudanças e regar o passado como se ele fosse uma plantinha frágil. Que bobagem a nostalgia.




"Era um tempo em que havia mais estrelas".Mário Quintana

domingo, 9 de novembro de 2008

OURO PRETO, novembro 2008



Steven Le Vourc'h



Paulo Carvalho


Ouro Preto esteve em festa com as letras nesta última semana.
O IV Fórum das Letras reuniu na cidade dezenas de escritores,
jornalistas e poetas. Organização impecável, tanto na recepção
quanto nas mesas redondas realizadas no Centro de Convenções.
Assiti a algumas mesas pela internet e outras, no sábado,
ao vivo. Excetuando a mesa de abertura, com Lobão e Nelson Mota,
dois de língua afiada, e solta, as mesas foram amenas e
comportadas, sem muita originalidade. A filósofa Márcia Tiburi
me pareceu um cabeça interessante.
Não assisti Rubem Alves e Elisa Lucinda, certamente os convidados
mais populares do evento, mas os comentários foram ótimos.
Já na mesa de encerramento a coisa ficou interessante quando
Nelson Saúte "acusou" Jorge Melícias e Luís Serguilha de
"hermetismo". Melícias rebateu mas isso só reforçou o rótulo dado
pelo poeta moçambicano. Sempre houve esse embate entre poesia
lírica, muitas vezes rotulada de fácil, que apresenta a vida cotidiana
e tenta estabelecer uma interlocução emocional com o leitor,
e a poesia não-lírica, rotulada de difícil, que quer ser só a linguagem
ou o conceito, e eventualmente exige mais do leitor, mesmo que
às vezes ofereça pouco. Contudo silêncio e palavra não se
dissociam em Poesia. Silêncio para ler a palavra, silêncio para ouvir
a palavra. Palavra para ouvir o silêncio e construir a linguagem.
Palavra e silêncio, luz e sombra, branco e preto, masculino e
feminino, paixão e indiferença, emoção e razão, corpo e alma,
verbo e verve, enigma e revelação.
Eis a medida, inexata, da poesia.


Abaixo algumas frases colhidas na mesa redonda de
encerramento do Fórum das Letras:


“Qual a medida entre a palavra e o silêncio na poesia?”
Chacal, Jorge Melícias (Portugal), Luís Serguilha (Portugal),
Nelson Saúte (Moçambique), Nicolas Behr.
Mediação Sérgio Fantini

"Bater perna, pisar pedra em Ouro Preto" Chacal

"O silêncio é o ruído da poesia.
Poesia é um instrumento de felicidade."
N. Behr

"A POESIA É O RUMOR DO MUNDO, ESSE BARULHO
TODO DO MUNDO. O SILÊNCIO É A
IMPOSSIBILIDADE DA POESIA". NELSON SAÚTE

Jorge Melícias: "Toda a poesia tende para o silêncio,
há mais de um nível de linguagem, ela é sedimentada."

Luís Serguilha: "O silêncio transforma a palavra poética.
O poema é feito de energia e não de sentimento."